Entrevista: “Nosso cérebro não é uma máquina”

Recentemente, enquanto participava de um evento da Vinícola Auora, em Caxias do Sul (RS), tive a oportunidade de dar uma entrevista para a GaúchaZH sobre como dosar produtividade com descanso – e como gestores devem lidar com isso no desenvolvimento de suas equipes e lideranças. Confira alguns insights do bate-papo com a jornalista Babiana Mugnol:

“Nosso cérebro não é uma máquina”

Teimamos em confundir quantidade de trabalho com produtividade, mas nosso cérebro não é uma máquina. Precisa sim de momentos de produção, trabalho e entrega, mas também de momentos “off”, desligar e até passar um tempo naquela “zona de conforto” tão criticada atualmente. Devemos ter o nosso TPM. Não me refiro a Tensão Pré-Menstrual e sim ao Tempo Para Mim. São nestes momentos pode podemos ressignificar aprendizados, buscar novidades e inovação e abusar da criatividade. Também são momentos de estarmos com família e amigos, e nos conectar com aquilo que importante.  Essa “zona de conforto” é justamente para evitar que o nosso cérebro pife, ou seja, acabe tendo transtornos e prejudicando a nossa saúde mental.

“Sistema imunológico na abundância”

Em determinado momento da entrevista, cito o sul-coreano Byung-Chul Han, autor de “A Sociedade do Cansaço”). No livro, ele sugere que nossos limites estão cada vez menos claros. Se na época dos nossos pais, era tudo mais “preto no branco”, hoje queremos tudo: o melhor corpo, a família mais estruturada, o melhor emprego em uma empresa que seja referência. Nosso cérebro não liga o sistema imunológico na abundância. Recebemos cada vez mais e-mails, estamos cada vez em mais grupos de Whatsapp. Pode até parecer que isso vem de fora, dos nossos chefes ou da sociedade, mas também vem de dentro – nosso cérebro acaba pedindo mais. E isso pode levar ao adoecimento.

“Por que eu faço o que faço?”

Dentro dessa sociedade do cansaço – ou da abundância -, precisamos relembrar o que é importante para nós, quais nossos objetivos, qual nosso propósito! Sem isso, as pessoas vão fazendo, fazendo e fazendo as coisas sem ter claro o porquê fazem. E aí a gente não consegue dar conta de tudo. Então, de novo, é preciso voltar para nossa essência e perguntar: por que eu faço o que faço? Qual a minha necessidade de fazer mais desta atividade ou daquela nesse momento? É a minha prioridade? E incluir os limites no nosso dia a dia é uma condição sine qua non (indispensável) para evoluir com saúde mental.

“Mulheres… mais ‘chipadas” com… informações emocionais”

Quando temos dentro da organização homens e mulheres em cargos de gestão, conseguimos mais pluralidade na tomada de decisões. Homens são mais focados, enquanto as mulheres trazem um outro conceito, que é a humanização, a importância da empatia, uma inteligência emocional que já foi desenvolvida desde o tempo das cavernas. Afinal, enquanto que os homens iam caçar com foco de trazer a comida para casa, e as mulheres ficavam cuidando da prole e tendo que identificar: aquele choro é de fome, é de dor? Isso fez com que nós, mulheres, já viéssemos mais “chipadas” com essas informações emocionais. Neste mundo tão competitivo, as pessoas querem gestores que inspiram, que têm uma escuta ativa e que buscam aquela conversa olho no olho. São comportamentos que as mulheres têm de forma mais fácil. Então, mesclar mais homens e mulheres na tomada de decisões gera empresas mais equilibradas. E isso impacta tanto no resultado da empresa como na gestão de pessoas. Afinal, as mulheres contribuem com uma relação mais humanizada e conversas mais significativas que apoiam as pessoas em direção a sua felicidade, ao que faz sentido para elas.

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